terça-feira, 8 de março de 2011

Como algodão.

Dias nublados e vento para bagunçar os cabelos; era um tipo de entretenimento pessoal do destino para os aproximar quando achava que era hora, e agora era, não só ele sabia. Porque soa realmente inconveniente dois seres que nutrem uma aversão tão absoluta um pelo outro, terem o mesmo principal costume: procurar o negado. Algo incomum, de fato, mesmo que para eles fosse comum ir ao parque quando o tempo armava uma tempestade, quando qualquer pessoa idosa estivesse cobrindo espelhos, e mães desligando aparelhos elétricos, ou quando crianças estivessem procurando um refúgio por medo dos trovões. Incomum não, soava apenas irônico que algo que trouxesse tanto receio para terceiros acabasse trazendo tanta paz para ambos, porque era só o que os interessava, mesmo que qualquer paz se dissipasse quando eles se encontravam.

- Fantasmas do passado costumam me assombrar, afinal.
- Você tem um parque inteiro para correr deles, Charlotte.
- Não finja que acredita que eles estejam dispostos a fazer minha vontade fugindo, a fazer a deles se divertindo.
- Certo, eles não estão; talvez seja por isso que você os classifica como passado, sempre atrás de você, que finge não gostar da brincadeira, assim como finge não gostar desse ciclo vicioso. Tudo porque adora a nostalgia.
- Nostalgia que custa caro, e eu me abrigo em ventos do sul, pedindo que carreguem tamanho preço, tamanho apego...
- Apego! Tamanho apego que demonstra agora, quando já somos futuro do passado? E você não é nem tão santa que não faça estrago, nem tão diaba que não crie uma prece. Se arma externamente para evitar a proximidade, recusa os convites da sua mente e reage de forma leviana e desastrada, quando na verdade calcula seus movimentos e planta suas vinganças.
- Pois bem! Engulo meu caráter por auto preservação, mas é você quem se nutre através disso, e tudo bem para mim que só preciso enterrar, deixando que você toque a marcha fúnebre. Apenas saia, desprograme-se,  desligue-se de mim.
- E se aconselho que não me deixe? Moro em sua mente, sou sua consciência.
- Vou-me embora e espero que os raios lhe cessem o caminho até mim; até a próxima assombração.
- Até a próxima tempestade.

sábado, 5 de março de 2011

Tem faltado o gosto da nostalgia.

Não existem meios termos, não agora que tudo dá essa impressão de querer ruir; pois não sabes então quão trágica é em mim a sensação de uma despedida rápida no portão de um lugar em que todos nos esbarram, me esbarram para longe de ti, me empurram e puxam na direção contrária, e o único físico que dói é o boato de que ouço sobre quando o amor morre, o único físico que faz meus ouvidos sangrarem, ou meus olhos arderem quando tu não olhas para trás, para ver em sua menina tudo que a queima por dentro, só por estar longe demais. E o que fazer com aquele vermelho que se desbotou? O pecado original seria deixá-lo se desbotar mais, e eu temo que isso não mude. A pior verdade se baseia em mim quando não sei como reagir.